terça-feira, 20 de abril de 2010

Praça Onze - o berço da ala das baianas e dos desfiles das escolas

A Praça Onze existiu por mais de 150 anos. A princípio denominada Rocio Pequeno, depois praça Onze de Junho (data da Batalha de Riachuelo), tornou-se, nas primeiras décadas do século XX, o local mais cosmopolita do Rio de Janeiro. Em suas redondezas misturaram-se imigrantes espanhóis, italianos e judeus de várias procedências com milhares de negros, na maioria oriundos da Bahia. Situada na cidade do Rio de Janeiro, os limites do local eram as ruas de Santana (a leste), Marquês de Pombal (a oeste), Senador Euzébio (ao norte) e Visconde de Itaúna (ao sul).

E foram os negros que transformaram a Praça Onze em reduto de sambistas. As famosas tias baianas, como Tia Ciata, até hoje são lembradas nos desfiles das escolas de samba, representadas pela ala das baianas, quesito obrigatório nas apresentações carnavalescas. A Praça Onze foi o primeiro espaço para os desfiles das escolas de samba.

Porém, o progresso do período pós-guerra trouxe a modernização do centro da cidade e, para desespero dos sambistas, em 1941, a prefeitura local iniciou a demolição da Praça Onze para a abertura da Avenida Presidente Vargas.

Grande Otelo teve a ideia de protestar em ritmo de samba. O ator mostrou a letra para os compositores Max Bulhões, Wilson Batista e Herivelto Martins, sem lhes despertar o menor interesse. Após a insistência de Otelo, Herivelto compôs o samba em que aproveitou a imaginação do ator, desprezando os seus versos.


A composição superou as expectativas do autor, sugerindo-lhe uma gravação diferente, em que se reproduzisse o clima de uma escola de samba. Assim ele fez, tendo a novidade se tornado padrão para a execução de sambas do gênero. Além do canto, no estilo "empolgação", foi primordial para que se estabelecesse tal clima o uso destacado de três elementos rítmicos - o tamborim, o apito e o surdo. Até então, o apito era usado nas escolas de samba somente como elemento sinalizador, para comandar o desfile. Sua função rítmica, sibilando em tempo de samba, foi uma invenção de Herivelto, lançada nesta gravação.

VEJA UM VÍDEO COM A MÚSICA DE HERIVELTO MARTINS (cantado por Ana Costa e Paula Malta)

Hoje em dia, nada mais resta da praça e de sua vida boêmia, desaparecida com a abertura da Avenida Presidente Vargas. O chafariz, desterrado para o Alto da Boa Vista, é a lembrança silenciosa de um momento único em um local excepcional, que reuniu as condições para que artistas humildes, conhecidos e anônimos, criassem e legassem ao país, aquele que é um dos pilares da cultura e identidade nacionais: o samba.

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